quarta-feira, 23 de novembro de 2011

NETTO. SS e Tradição Marxista

                              FUNDAMENTOS III - NETTO. SS e Tradição Marxista


.
Possíveis relações entre Serviço Social e tradição marxista. As vertentes culturais em que se inserem o pensamento marxiano e o Serviço Social são dois movimentos bastante diversos, embora haja um denominador comum para ambos.




“o que é piso comum para Marx e o Serviço Social são os quadros macroscópicos, inclusivos e abrangentes da sociedade burguesa. Tanto a obra marxiana quanto o Serviço Social são impensáveis fora do âmbito da sociedade burguesa. De fato, ambos têm como substrato imediato o que está sinalizado na nossa bibliografia sob o rótulo de ‘questão social’ – conjunto de problemas econômicos, sociais, políticos, culturais e ideológicos que cerca a emersão da classe operária como sujeito sócio-político no marco da sociedade burguesa” (Netto, 1989:90).



Aspectos que diferenciam profundamente o Serviço Social e a obra marxiana:

diferença entre a “questão social” sobre a qual Marx se debruça e a “questão social” na qual o Serviço Social surge como profissão institucionalizada.

Enquanto Marx se defronta com a “questão social” ainda no período do capitalismo concorrencial, o Serviço Social só se debruça sobre ela na passagem daquele último para a idade do monopólio.




Enquanto Marx crítica a “questão social” em sua fase “clássica”, o Serviço Social atua sobre ela em seu momento mais tardio, mais avançado.

Para Marx, a “questão social” está estreitamente vinculada ao capitalismo, e sua superação só é possível com a ultrapassagem deste modo de formação social.

Já o Serviço Social se coloca frente à tarefa de administrar a “questão social” no interior desta forma de organização da sociedade.





“Para Marx, o que a bibliografia tradicional do Serviço Social (e não só) entende por ‘questão social’ é um complexo de processos absolutamente indivorciável do capitalismo; mais exatamente, para Marx, o capitalismo é a produção e a reprodução contínua e ampliada da ‘questão social’. Na ótica marxiana, a superação da ‘questão social’ demanda, liminarmente, a ultrapassagem dos marcos do capitalismo. Ora, o pressuposto do Serviço Social original aponta para o enfrentamento da ‘questão social’ nos marcos do capitalismo, ou seja, o Serviço Social surge inclinado a subsidiar a administração da ‘questão social’ nos quadros da sociedade burguesa” (Netto, op.cit.:90-1).



Esta profissão só emerge na fase monopolista do capitalismo, quando o Estado burguês passa a desenvolver formas sistemáticas, estratégicas e coesivas de enfrentamento das manifestações da “questão social”. Isto significa, de acordo com o autor, que o Serviço Social está diretamente relacionado não à “questão social”, de uma forma geral, mas à “‘questão social’ sob o capitalismo dos monopólios” (op.cit.:91), e a sua administração, sua manutenção e sua reprodução são algumas das tarefas do Serviço Social.




Um outro aspecto que diferencia o Serviço Social da obra marxiana diz respeito às vertentes culturais nas quais eles se situam. De acordo com Netto, a vertente cultural a que Marx se vincula é a “vertente revolucionária”, que está diametralmente oposta àquela que se prende o Serviço Social, a “vertente conservadora”.




“É a vertente revolucionária, à qual Marx se conecta num processo que a inflete medularmente, ao lhe conferir o tônus da contemporaneidade, apreendendo a natureza, a estrutura e a dinâmica específicas da sociedade burguesa. Trata-se de uma vertente que, a partir de Marx, só deixará de ser moderna quando a socialidade burguesa se exaurir completamente: Marx é um pensador inserido caracteristicamente na ordem burguesa, ainda que a sua pesquisa seja toda ela direcionada para derruir e ultrapassar esta ordem” (Netto, op. cit.: 91).


“(...) vertente conservadora, na qual se inscreve o Serviço Social: é uma das suas concretizações profissionais, quando ela, na passagem do capitalismo concorrencial à idade do monopólio, transita para a intervenção, a gestão e a administração institucionais de variáveis que concorrem na ‘questão social’. Na vertente conservadora, tal como ela se constitui sob a lente do estilo de pensar positivista, cristaliza-se a auto-representação do ser social funcional aos marcos do capitalismo consolidado” (Netto, op. cit.:92).


Pode se perceber a existência de um nítido corte entre estas duas vertentes culturais, cujas conseqüências constituem, no plano teórico, um cenário de mútua excludência, já que o Serviço Social se configura como uma profissão que surge no interior de um conjunto de saberes antagônicos às concepções teórico-metodológicas marxianas.



Ocorreu foi uma aproximação enviesada de setores do Serviço Social à tradição marxista, “um viés derivado dos constrangimentos políticos, do ecletismo teórico e do desconhecimento das fontes ‘clássicas’” (p. 98).

No entanto, os avanços e equívocos derivados dessa aproximação enviesada desenharam uma base mais sólida para recolocar a questão da interlocução entre setores do Serviço Social e a tradição marxista, projetando que tal interlocução se aprofundaria e se acentuaria.



Esta projeção efetuada pelo autor, parece ter se efetivado, sendo profuso o número de textos produzidos no interior do Serviço Social que se utilizam das contribuições da tradição marxista. Um ponto que deve ser destacado é a íntima relação entre a aproximacão do Serviço Social à tradição marxista e o surgimento de seu processo de produção de conhecimentos.




O início deste processo data dos anos oitenta, década em que o Serviço Social atinge a sua “maioridade no domínio da elaboração teórica”. Esta maioridade intelectual alcançada pelo Serviço Social só pode ser devidamente percebida se for articulada às contribuições da “tradição marxista”.
Fonte : http://renato-veloso.blogspot.com/2009/08/netto-ss-e-tradicao-marxista.html

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Curso o Método em Marx com José Paulo Netto





Aula 1 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto





Aula 2 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto laquejv






quinta-feira, 10 de novembro de 2011


domingo, 30 de outubro de 2011

                                             LANÇAMENTO ESPECIAL


sábado, 29 de outubro de 2011

LEI MARIA DA PENHA EM CORDEL

Feito a partir dos artigos da Lei que pune crimes de violência doméstica contra a mulher:


A Lei Maria da Penha

Está em pleno vigor

Não veio pr’a prender homem

Mas pr’a punir agressor

Pois em “mulher não se bate

Nem mesmo com uma flor”.



II

A violência doméstica

Tem sido grande vilã

Por ser contra a violência

Desta lei me tornei fã.

Pr’a que a mulher de hoje

Não seja vítima amanhã.



III

Toda mulher tem direito

A viver sem violência

É verdade, tá na lei.

Que tem muita eficiência

Pr’a punir o agressor

E à vítima, dar assistência.



IV

Tá no artigo primeiro

Que a lei visa coibir

A violência doméstica

Como também, prevenir;

Com medidas protetivas

E ao agressor, punir.



V

Já o artigo segundo

Desta lei especial

Independente de classe

Nível educacional

De raça, de etnia;

Opção sexual...



VI

De cultura e de idade

De renda e religião

Todas gozam dos direitos

Sim, todas! Sem exceção.

Que estão assegurados

Pela Constituição.



VII

E que direitos são esses?

Eis aqui a relação:

À vida, à segurança.

Também à alimentação

À cultura e à justiça

À Saúde e educação.



VIII

Além da cidadania

Também à dignidade

Ainda tem moradia

E o direito à liberdade.

Só tem direitos nos “As”,

E nos “Os”, não tem novidade?



IX

Tem direito ao esporte

Ao trabalho e ao lazer

E o acesso à política

Pr’o Brasil desenvolver

E tantos outros direitos

Que não dá tempo dizer.



X

A Lei Maria da Penha

Cobre todos esses planos?

Ah, já estão assegurados

Pelos Direitos Humanos

A lei é mais um recurso

Pr’a corrigir outros danos.



XI

Por exemplo: a mulher

Antes da lei existir,

Apanhava, e a justiça

Não tinha como punir

Ele pagava fiança

E voltava a agredir.



XII

Com a lei é diferente

É crime inafiançável.

Se bater, vai pr’a cadeia!

Agressão é intolerável.

O Estado protege a vítima

Depois pune o responsável.



XIII

Segundo o artigo sétimo

Os tipos de Violência

Doméstica e Familiar

Pois tem na sua abrangência

As cinco categorias

Que descrevo na seqüência.



XIV

A primeira é a Física

Entendendo como tal

Qualquer conduta ofensiva

De modo irracional

Que fira a integridade

E a saúde corporal...



XV

Tapas, socos, empurrões;

Beliscões e pontapés

Arranhões, puxões de orelha

Seja um ou sejam dez

Tudo é violência física

E causam dores cruéis.



XVI

Vamos ao segundo tipo

Que é a Psicológica

Esta merece atenção

Mais didática e pedagógica

Com a auto-estima baixa

Toda a vida perde a lógica.



XVII

Chantagem, humilhação;

Insultos; constrangimento;

São danos que interferem

No seu desenvolvimento

Baixando a auto-estima

Aumentando o sofrimento



XVIII

Violência Sexual

Dá-se pela coação

Ou uso da força física

Causando intimidação

E obrigando a mulher

Ao ato da relação...



XIX

Qualquer ação que impeça

Esta mulher de usar

Método contraceptivo

Ou para engravidar

Seu direito está na lei

Basta só reivindicar.



XXA

4ª categoria

É a Patrimonial:

Retenção, subtração,

Destruição parcial

Ou total de seus pertences

Culmina em ação penal.



XXI

Instrumentos de trabalho

Documentos pessoais

Ou recursos econômicos

Além de outras coisas mais

Tudo isso configura

Em danos materiais.



XXII

A 5ª categoria

É Violência Moral

São os crimes contra a honra

Está no Código Penal

Injúria, difamação;

Calúnia, etc e tal.



III

Segundo o artigo quinto

Esses tipos de violência

Dão-se em diversos âmbitos

Porém é na residência

Que a violência doméstica

Tem sua maior incidência.



XXIV

Quem pode ser enquadrado

Como agente/agressor?

Marido ou companheiro

Namorado ou ex-amor

No caso de uma domestica

Pode ser o empregador.



XXV

Se por acaso o irmão

Agredir a sua irmã

O filho, agredir a mãe;

Seja nova ou anciã

É violência doméstica

São membros do mesmo clã.



XXVI

E se acaso for o homem

Que da mulher apanhar?

É violência doméstica?

Você pode me explicar?

Tudo pode acontecer

No âmbito familiar.



XXVII

Nesse caso é diferente

A lei é bastante clara.

Por ser uma questão de gênero

Somente a mulher ampara

Se a mulher for valente

O homem que livre a cara.



XXVIII

E procure seus direitos

Da forma que lhe convenha

Se o sujeito aprontou

E a mulher desceu-lhe a lenha

Recorra ao Código Penal

Não à Lei Maria da Penha.


XXIX

Agora, num caso lésbico;

Se no qual a companheira

Oferecer qualquer risco

À vida de sua parceira

agressora é punida;

Pois a lei não dá bobeira.


XXX

Para que os seus direitos

Estejam assegurados

A Lei Maria da Penha

Também cria os Juizados

De Violência Doméstica

Para todos os Estados.



XXXI

Aí, cabe aos governantes.

De cada federação

Destinarem os recursos

Para implementação

Da Lei Maria da Penha

Em prol da população.



XXXII

Espero ter sido útil

Neste cordel que criei

Para informar o povo

Sobre a importância da Lei

Quem agride uma Rainha

Não merece ser um Rei.



XXXIII

Dizia o velho ditado

Que “ninguém mete a colher”.

Em briga de namorados

Ou de “marido e mulher”

Não metia...

Agora, mete!

Pois isso agora reflete

No mundo que a gente quer.

O MANIFESTO COMUNISTA EM CORDEL

 Os economistas, filósofos e socialistas alemães Karl Marx e Frederich Engels tem, pela primeira vez, suas idéias lançadas em poemas de cordel pelo poeta popular cearense Antônio Queiroz de França.


Em 1844, Marx conheceu em Paris Friedrich Engels, começo de uma amizade íntima durante a vida toda. Foi, no ano seguinte, expulso da França, radicando-se em Bruxelas e participando de organizações clandestinas de operários e exilados.


Ao mesmo tempo em que na França estourou a revolução, em 24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels publicaram o folheto "O Manifesto Comunista", primeiro esboço da teoria revolucionária que, mais tarde, seria chamada marxista. Agora sua versão em cordel contitui-se em um marco na Literatura Brasileira.


O lançamento é da Editora Tupynanquim, do Ceará, em parceria com a Associação dos Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará - Aestrofe. "O Manifesto Comunista em Cordel" está sendo lançado, neste momento, na Bienal do Livro de Natal, Rio Grande do Norte, que termina nesta sexta-feira.


Antônio Queiroz de França nasceu no dia 22 de junho de 1948 em Jaguaretama (Ceará), é autodidata e mora em Maracanaú (Ceará) desde 1972.


Em 2003, teve um cordel de sua autoria classificado no II Concurso Paulista de Literatura de Cordel.


É um dos diretores da Sopoema - Sociedade dos Poetas e Escritores e Folheteiros do Estado do Ceará.


Além deste folheto, já publicou os seguintes títulos: "Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos" (em parceria com o poeta Rouxinol do Rinaré), "A História da Heroína Olga Benário", "Luiz Carlos Prestes - O Cavaleiro da Esperança", "As aventuras do guerrilheiro Che Guevara", dentre outros.


Trechos de "O Manifesto Comunista em Cordel":




Pensadores, sociólogos,
Cientistas sociaisi
Preocupem-se com o Homem
Este "rei dos animais"
Que cultiva o egoísmo,

Da ética não lembra mais.
Devido à desigualdade
Estudam a economia
E chegaram à conclusão
Que a poucos privilegia
Sem o mínimo pra ter vida
Sofre a grande maioria.






Fizeram a divisão
Após "estudos profundos":
"Primeiro mundo" dos ricos,
"Terceiro" dos moribundos.
Os pobres escravizados
Por burgueses dos dois mundos.

Um grande gênio alemão
E um outro camarada
Prepararam uma tese
Da humanidade estudada
E descobriram a causa
Da fome verificada.






Foi de Karl Marx e Engels
A grande ação humanista
Quando lançaram ao mundo
O Manifesto Comunista,
Dizendo que nosso grito
Necessita ser conquista.

Em mil e oitocentos e
Quarenta e sete emitiram
Na liga dos comunistas
Em congresso decidiram,
O Manifesto dos pobres
Marx e Engels redigiram.




Feito de forma eclética
Une anticapitalistas
Da grande Liga Operária
Os quais eram comunistas
Que faziam um consenso
Com os irmãos anarquistas.






Quando a vida virou luxo
Neste tal Planeta Terra
Onde poucos vivem bem.
Pra se manter fazem guerra
Sobre muitos que produzem
Nova escravidão se encerra.






Gera insensibilidade
Em todos desde a infância:
Nos ricos por vaidade,
É causada por ganância;
Nos pobres pela miséria,
A causa é ignorância.






Sobre os nossos ombros pesa
A responsabilidade
Entre o nosso segmento
Com solidariedade.






O Partido Comunista
Já começa a progredir
E os vários movimentos
Resolveram se unir,
Para vil exploração,
Neste planeta, abolir.




Várias correntes de idéias,
Movimentos Sociais,
Havia, entre operários
E entre intelectuais.
Depois deste Manifesto
Tornaram-se consensuais.






O movimento operário
Chamava-se comunista,
Dos intelectuais
Era o socialista.
Afora outro que havia
Chamado de anarquista.






Dizem no Manifesto
Que existia um fantasma
Rondando toda a Europa
(De medo o Estado pasma),
Que prometia dá fim,
Entre nós, num cataplasma.






Karl Marx conclama a todos
Para entrarem em ação
Unindo os trabalhadores
Sem destinção de nação
Para o fantasma passar
Á materialização.
[...]


Queremos, nós comunistas
É promover o respeito
Pondo fim na hipocrisia,
Irmandade é o nosso pleito,
Nas relações sociais,
Terá um novo conceito.


Inventaram que os comunistas
A pátria destruirão.
Operários não tem pátria
Vivendo em submissão,
Escravos da burguesia
Que domina com opressão.






Tomar o poder político
E ter a dominação,
Esse é o objetivo
Da nossa revolução.
Como somos maioria,
Somos a própria nação.


Todos os antagonismos
Não sobreviverão mais.
E o Estado socialista
Não tem marcos nacionais,
Nem as discriminações
De sexo e raciais.


[...]


O Manifesto Comunista


Em cordel


Antônio Queiroz de França
Fonte: http://plaggiado.blogspot.com/2011/02/o-manifesto-comunista-em-cordel.html

Positivismo, fenomenologia e marxismo.

Resumo: O positivismo, a fenomenologia e o marxismo são as principais correntes teóricas do pensamento contemporâneo. Basicamente, essas são as três linhas de idéias fundamentais e de extrema importância para nossos estudos. Elas servem como nosso guia, pois nos basearemos a partir dos conceitos das mesmas em nossa futura prática profissional. Estas linhas são as tendências que se concretizam em nossos trabalhos, ou pesquisas. O conhecimento é fator essencial; ter uma concepção de vida, do homem e do mundo é base indispensável de todo enfoque teórico. É preciso compreender o homem a partir da realidade do mundo em que ele vive e integrar as correntes do pensamento dentro de uma concepção geral e ampla, adaptando-as com as necessidades do meio em que vivemos.


INTRODUÇÃO


Neste artigo pretendemos, em geral, analisar os conceitos fundamentais das principais correntes do pensamento. Primeiramente analisaremos o positivismo, o que é positivismo, qual a sua visão de homem e mundo, e quais as influências que ainda hoje persistem da linha positivista. O fundador dessa linha de pensamento é Augusto Comte, baseada nos dados da experiência como a única verdadeira, negando outra realidade que não seja a dos fatos que podem ser observados.


Logo em seguida, falaremos da fenomenologia, procurando destacar seus aspectos importantes, contextualizando seu surgimento e que influências teve e ainda tem até a atualidade. Essa corrente teve como grande mérito o de ter questionado os conhecimentos do positivismo, elevando a importância do sujeito no processo de construção do conhecimento.


O marxismo é a última corrente a ser analisada, destacando suas principais características, e como esta linha de pensamento marxista está relacionada com os dias atuais. Certamente a teoria marxista será a linha em que mais trabalharemos, visto que essa está comprometida com um projeto de transformação da realidade social, visando uma idéia global sobre a realidade. Com ênfase a estas colocações, o artigo tem a intenção de


______________________


MARIANE INÊS HERMANY1


1 – Aluna do 4º semestre do curso de Serviço Social da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC


demonstrar como essas três correntes se constituem, destacando os traços fundamentais que distinguem o positivismo, a fenomenologia e o marxismo.










1 POSITIVISMO










1.1 Idéias básicas


O fundador do positivismo foi Augusto Comte, não nasceu espontaneamente no século XIX, suas raízes podem ser encontradas já na Antiguidade. É uma tendência dentro do Idealismo Filosófico e representa nele uma das linhas do Idealismo Subjetivo. Tem por base a exaltação dos fatos, sendo uma reação à filosofia expeculativa e sua expeculação pura. O termo identifica a filosofia baseada nos dados da experiência como a única verdadeira. O conhecimento se afirma numa verdade comprovada, sendo assim considerado o método experimental o caminho para o pensamento científico, a verdade comprovada jamais é questionada. O positivismo, uma corrente filosófica, caracteriza-se por três preocupações principais: Uma filosofia da história (na qual encontramos as bases de sua filosofia positiva e sua célebre “lei dos três estados” que marcariam as fases da evolução do pensar humano: teológico, metafísico e positivo); uma fundamentação e classificação das ciências (Matemática, Astronomia, Física, Química, Fisiologia e Sociologia); e a elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais, a Sociologia que, num primeiro momento, Augusto Comte denominou física social (Triviños, 1987, p. 33).


O positivismo rejeita o conhecimento metafísico, devendo limitar-se ao conhecimento positivo, aos dados imediatos da experiência. Defende a idéia de que tanto os fenômenos da natureza como os da sociedade são regidos por leis invariáveis.


Podemos distinguir três momentos na evolução do positivismo. A primeira fase, chamaremos de positivismo clássico, na qual, além do fundador Comte, também se sobressaem os nomes de Littré, Spencer e Mill. Logo após ao final do século XIX, o empiriocriticismo de Avenarius e Mach. A terceira etapa denomina-se de neopositivismo e compreende uma série de matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o empirismo lógico, vinculados ao Círculo de Viena (Carnap, Schlick, Frank, Neurath, etc.); o atomismo lógico (Russell, 1872-1970, e Witgenstein, 1889-1951); a filosofia analítica (Witgenstein e Ayer, n.1910) que acham que a filosofia deve ter por tarefa elucidar as formas da linguagem em busca da essência dos problemas; o behaviorismo (Watson, 1878-1958) e o neobehaviorismo (Hull, 1884-1952, e Skinner, n.1904) (Triviños, 1987, p. 33 ).


Facilmente se observa que a filosofia positiva se colocou no extremo oposto da especulação pura, exaltando, sobretudo, os fatos.










1.2 Positivismo Clássico


Nas idéias de Comte temos alguns princípios fundamentais do positivismo, cujo emprego se considera como prática comum entre os pesquisadores. Estes princípios são: a busca da explicação dos fenômenos através das relações dos mesmos e a exaltação da observação dos fatos, mas resulta que para ligar os fatos existe “necessidade de uma teoria”. Não sendo assim, acredita que seja impossível que os fatos sejam percebidos. “Desde Bacon se repete que são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados, mas para entregar-se à observação nosso espírito precisa de uma teoria” (Triviños, 1987, p. 34).


Segundo Comte, o estudo das ciências possui algo muito mais elevado que o, de atender o interesse da indústria, que é o de “satisfazer a necessidade fundamental sentida por nossa inteligência, de conhecer as leis dos fenômenos”, “prescindindo de toda consideração prática” (Triviños, 1987, p. 35).


Também prega a submissão da imaginação à observação, mas isto não deve transformar “a ciência real numa espécie de estéril acumulação de fatos incoerentes’, porque devemos entender “que o espírito positivo não está menos afastado, no fundo, do empirismo do que do misticismo” (Triviños, 1987, p. 35).


O positivismo proclama como função essencial da ciência sua capacidade de prever. “O verdadeiro espírito positivo consiste em ver para prever” (Triviños, 1987, p. 35).










1.3 Características Principais do Positivismo


Considerar a realidade como formada por partes isoladas, de fatos anatômicos, segundo a expressão de Russel e Witgenstein, é uma das características que mais têm pesado sobre a prática da pesquisa na educação. Pois a visão isolada dos fenômenos sociais, oposta à idéia de integridade e de transformação dialética, permitiu que nossos pesquisadores realizassem estudos, por exemplo, sobre o fracasso escolar, desvinculando de uma dinâmica ampla e submetidos a relações simples, sem aprofundar as causas. Não era feito um estudo mais aprofundado, desconsiderando todo o contexto. A evasão na primeira série surgia como relacionada com os anos de magistério dos professores, com seu grau de formação profissional, seu nível sócio econômico etc. Para o positivismo não interessavam as causas dos fenômenos, isso não era positivo, não era tarefa da ciência. Buscar as causas dos fatos, era ter uma visão desproporcionada da força intelectual do homem, de sua razão. Isso era metafísico. Assim, tendo os fatos como único objeto da ciência, fatos que podiam ser observados, a atitude positivista consistia em descobrir as relações entre as coisas. O que interessa ao espírito positivo é estabelecer como se produzem as relações entre os fatos.


Assim, eliminou qualquer perspectiva de colocar a busca científica ao serviço das necessidades humanas, para resolver problemas práticos. O investigador estuda os fatos, estabelece relações entre eles, pela própria ciência, pelos propósitos superiores da alma humana de saber. Não está interessado em conhecer as conseqüências de seus achados. “A ciência estuda os fatos para conhece-los, e tão-somente para conhece-los, de modo absolutamente desinteressado”. O papel do investigador é exprimir a realidade, não julgá-la. Este ponto de vista, o de ser o conhecimento científico neutro, foi combatido, primeiro, no mundo dos cientistas sociais que não podiam conceber que a ciência humana pudesse ficar à margem da influência do ser humano que investigava. São poucos agora os que ainda defendem a neutralidade da ciência natural. Um dos traços mais característicos do positivismo está representado, por sua rejeição ao conhecimento metafísico, a metafísica (Triviños, 1987, p. 36-37).


Precisamente foi o positivismo lógico que formulou o princípio da verificação. Segundo este princípio, será verdadeiro aquilo que é empiricamente verificável, isto é toda afirmação sobre o mundo deve ser confrontada com o dado. Desta maneira, o conhecimento científico ficava limitado à experiência sensorial.


O Empirismo Lógico (conhecido também como Positivismo Lógico ou Neopositivismo), foi fundado por um grupo de filósofos e cientistas, conhecido sob o nome de “Círculo de Viena”, que no decorrer da década de 20, se reuniram em torno de Moritz Schlick em Viena, fundando uma das mais influentes correntes filosóficas e epistemológicas de nosso tempo. Seus principais integrantes foram, além de Schlick, Rudolf Carnap, Otto Neurath, Hans Hahn, etc. O programa filosófico do Círculo de Viena foi ganhando cada vez mais influência, sobretudo nos países anglo-saxões, onde suas investigações não se limitaram ao campo da teoria da ciência, mas estenderam-se aos domínios da ética, da filosofia da linguagem e da filosofia da história. Tal corrente, que emergiu do Empirismo Lógico, recebeu mais tarde o nome de Filosofia Analítica (Carvalho, 1991, p. 66).


O Círculo de Viena que incluía alguns dos mais conhecidos pesquisadores nas áreas das ciências naturais (Otto Neurath, M. Schlick, R. Carnap etc.), preocupava-se antes de tudo com as funções da filosofia. A filosofia que viam estava sobrecarregada com um excesso de “conversa fiada”; grande parte do que se escrevia não passava de palavras vazias, sem sentido e que nada descreviam. A filosofia deveria ser reformada e sua função redefinida. Seguramente influenciados pela sua formação e passado de ciência, eles viam para a filosofia uma função muito mais modesta: funcionar como uma supergramática da ciência (Castro, 1978, p. 39).


Os positivistas lógicos, especialmente Carnap e Neurath, desenvolveram a idéia denominada fisicalismo, numa tentativa de buscar uma linguagem única, comum para toda a ciência. O fisicalismo consistia em traduzir todo postulado científico à linguagem da física. Se esse podia ser traduzido como forma de expressar suas verdades dessa ciência, então era científico. Os mesmos positivistas lógicos concordaram que esse esforço não alcançou resultados satisfatórios (Triviños, 1987, p. 38).


É muito difícil, quando não impossível, delinear em poucas palavras a filosofia do Empirismo Lógico. Seus representantes sempre se caracterizaram pela autocrítica e por uma honestidade intelectual muito grande, o que acabou impondo uma série de revisões e modificações em suas posições (Carvalho, 1991, p. 66).


Uma das afirmações básicas do positivismo está representada pela sua idéia de unidade metodológica para investigação dos dados naturais e sociais. Partia-se da idéia de que tanto os fenômenos da natureza, como os da sociedade estavam regidos por uma lei invariável. O emprego do termo “variável” permitiu medir as relações entre os fenômenos e estabelecer generalizações. Os conceitos operacionalizados formavam as proposições que permitiam formular as teorias.


Uma das aspirações mais abrigadas pelos positivistas foi a de alcançar resultados na pesquisa social que pudessem generalizar-se. As técnicas de amostragem, os tratamentos estatísticos e os estudos experimentais severamente controlados foram instrumentos usados para concretizar estes propósitos. Mas,


“a flexibilidade da conduta humana, a variedade dos valores culturais e das condições históricas, unidas ao fato de que na pesquisa social o investigador é um ator que contribui com suas peculiaridades (concepção do mundo, teorias, valores etc), não permitirão elaborar um conjunto de conclusões frente a determinada realidade com o nível de objetividade que apresenta um estudo realizado no mundo natural” (Triviños, 1987, p. 38).


Partindo da idéia de que conhecimento é aquilo que pode ser testado empiricamente, os positivistas determinavam que não podia existir qualquer tipo de conhecimento elaborado a priori. O positivismo estabeleceu distinção muito clara entre valor e fato. Os fatos eram objeto da ciência. Os valores, como não eram “dados brutos” e apenas expressões culturais, ficavam fora do interesse do pesquisador positivista, pois nunca poderiam construir-se num conhecimento científico. O positivista reconhecia apenas dois tipos de conhecimento autênticos, verdadeiros, legítimos; numa palavra científicos: o empírico, representado pelos achados das ciências naturais, o mais importante de ambos, é o lógico, constituído pelo lógico e pela matemática (Triviños, 1987, p. 38-39).


Os empiristas lógicos construíram um ideal de ciência que se caracterizou basicamente pela adesão a dois princípios: Princípio do Empirismo – um enunciado ou um conceito só será significante na medida em que possua uma base empírica, ou seja, na medida em que for fundado na experiência; Princípio do Logicismo – para que um enunciado ou sistema de enunciados possa valer como científico deve ser passível de exata formulação na linguagem da lógica (Carvalho, 1991, p. 67).


O positivismo, sem dúvida, representa, especialmente através de suas formas neopositivistas, como o positivismo lógico e a denominada filosofia analítica, uma corrente do pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento (Triviños, 1987, p. 41).










2 FENOMENOLOGIA:










2.1 Idéias básicas


É uma ciência que trata da descrição e classificação de seus fenômenos. Representa uma tendência dentro do Idealismo Filosófico, e dentro deste do Idealismo subjetivo. O principal autor dessa teoria é Husserl (1859-1938), teve grande influência na filosofia contemporânea. Suas origens estão em Platão e Descartes (Triviños, 1987, p. 41-42).


As correntes do pensamento como o existencialismo, se alimentaram na fonte fenomenológica. Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, por um lado, representam o existencialismo ateísta e por outro, Van Breda, Marcel e Jaspers, entre outros, cultivam uma linha de crença em Deus, cujas raízes principais estão em Soeren Kierkegaard (1913-55), filósofo dinamarquês, para o qual o pensar deve ser “existencial”.


“Compreender a fenomenologia quer dizer: apreender suas possibilidades”. Pode-se apresentá-la como uma prática científica, como uma metodologia da compreensão, como uma filosofia crítica das ciências, como uma estética da existência. “A fenomenologia como ciência das ‘essências’, análise eidética, distingue-se da filosofia fenomenológica enquanto sistema de filosofia transcendental. A fenomenologia como técnica de análise eidética não cai sob os golpes da crítica à fenomenologia transcendental” (Bruyne, 1991, p. 74).


Segundo essa corrente, a filosofia como “ciência rigorosa” deveria ter como tarefa estabelecer as categorias puras do pensamento científico, mediante a “redução fenomenológica” ou a apresentação do fenômeno puro, livre dos elementos pessoais e culturais, atingindo assim a sua essência (Cordeiro, 1999, p. 49).










2.2 Principais características da fenomenologia


O conceito básico da fenomenologia, é a noção de intencionalidade. Esta intencionalidade é da consciência que sempre está dirigida a um objeto. Isto tende a reconhecer o princípio que não existe objeto sem sujeito.


O termo intencionalidade, primordial no sistema filosófico de Husserl é a característica que se apresenta a consciência de estar orientada para um objeto. Não é possível nenhum tipo de conhecimento se o entendimento não se sente atraído por algo, concretamente por um objeto (Triviños, 1987, p. 45).


Para Husserl, a intencionalidade é algo “puramente descritivo, uma peculiaridade íntima de algumas vivências”. Desta maneira, a intencionalidade característica da vivência determinava que a vivência era consciência de algo (Triviños, 1987, p. 45).


“A Fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, tornam a definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. Mas também a fenomenologia é uma filosofia que substitui as essências na existência e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de seus fatos”. Suspende as afirmações para poder compreendê-las. Compreende o homem através do mundo em que ele vive (Triviños, 1987, p. 43).


A fenomenologia descreve os fatos, não explica e nem analisa. Seu principal objeto é o mundo vivido, ou seja, os sujeitos de forma isolada. Considera a imersão no cotidiano e a familiaridade com as coisas tangíveis. É necessário ir além das manifestações imediatas para captá-las e desvendar o sentido oculto das impressões imediatas. O sujeito precisa ultrapassar as aparências para alcançar a essência dos fenômenos.


Husserl questiona “Como pode o conhecimento estar certo de sua consonância com as coisas que existem em si, de as ‘atingir’?”. Isto significa a possibilidade da metafísica. Admite que o exame do conhecimento deve ter um método, sendo este o da fenomenologia, que é “a doutrina universal das essências, em que se integra a ciência da essência do conhecimento” (Triviños, 1987, p. 43).


Segundo Husserl “as vivências serão seus primeiros dados absolutos, pois o conhecimento intuitivo da vivência é permanente” (Triviños, 1987, p. 44).


A fenomenologia estuda o universal, é válida para todos os sujeitos, tem como dado a essência do fenômeno. O que eu conheço, ou o que eu vivencio é o mundo que pode ser conhecido por todos. É uma corrente de pensamento que não está interessada em colocar a historicidade dos fenômenos. Não introduz transformações à realidade, ou seja, mantém-se conservadora; apenas estuda a realidade com o desejo de descrevê-la, ou apresentá-la tal como ela é, sem mudanças. Exalta a interpretação do mundo que surge intencionalmente à nossa consciência, sem abordar conflitos de classes e nem mudanças estruturais (Triviños, 1987, p. 47-48).


A descrição fenomenológica funda-se sobre o vivido, sobre o real mais íntimo, que ela se esforça por recuperar num plano temático. Trata-se de uma “volta às próprias coisas” segundo o programa husserliano de transcender as representações espontâneas do empirismo; no mesmo movimento, a fenomenologia quer atingir a essência dos fenômenos. “A intuição da essência se distingue da percepção do fato: ela é a visão do sentido ideal que atribuímos ao fato materialmente percebido e que nos permite identificá-lo” (Bruyne, 1991, p. 76).


A fenomenologia constitui um processo epistemológico com o qual as ciências sociais deveriam esclarecer suas problemáticas; ultrapassa entretanto, como filosofia as ambições estritamente científicas (Bruyne, 1991, p. 80).


“A riqueza da fenomenologia, seu lado positivo, é seu esforço por apreender o próprio homem por baixo dos esquemas objetivistas com os quais a ciência antropológica não pode deixar de recobri-lo e é evidentemente sobre essa base que é necessário discutir com a fenomenologia” (Bruyne, 1991, p. 80).


Na pesquisa, eleva o ator, com suas percepções dos fenômenos. Seu objeto principal é o mundo vivido, pois as vivências serão seus primeiros dados absolutos. A fenomenologia ressalta a idéia de “ser o mundo criado pela consciência”. A realidade é construída socialmente.


A pesquisa educacional, especialmente dos estudos de sala de aula, permitiu a discussão dos pressupostos considerados como naturais. Mas o esquecimento do histórico na interpretação dos fenômenos da educação, sua omissão do estudo da ideologia, dos conflitos sociais de classes, da estrutura da economia, entre outros, conclui que esse enfoque teórico pouco pode ser proveitoso quando se está visando os graves problemas de sobrevivência dos habitantes dos países do Terceiro Mundo (Triviños, 1987, p. 48-49).


A reflexão fenomenológica guiará o pesquisador quando se tratar de colocar problemas, hipóteses, de destacar conceitos com vistas à elaboração teórica; ela poderá garantir a fecundidade sempre renovada da pesquisa (Bruyne, 1991, p. 79).


O grande mérito da fenomenologia é o de ter questionado os conhecimentos do positivismo, elevando a importância do sujeito no processo de construção do conhecimento. Com isso, pode-se dizer que o método fenomenológico é filosófico e não científico. A fenomenologia não leva em consideração a historicidade, mas descreve um pouco mais os fatos e exalta a interpretação do mundo intencionalmente.


A fenomenologia, e mais amplamente a filosofia, não é apenas compatível com as ciências sociais, ela lhes é necessária “como um constante chamado a (suas) tarefas ... cada vez que o sociólogo volta às fontes vivas de seu saber, ao que nele opera como meio para compreender as funções culturais mais afastadas dele, espontaneamente faz filosofia ... A filosofia não é um saber determinado, é a vigilância que não nos deixa esquecer a fonte de todo saber” (Bruyne, 1991, p. 80).










3 MARXISMO:










3.1 Idéias básicas


Karl Marx (1818-1883), ao fundar a doutrina marxista na década de 1840, revolucionou o pensamento filosófico. Na evolução do Marxismo podemos assinalar a primeira fase, representada por Marx; na segunda trabalham juntos Marx e Engels e na terceira em geral, as contribuições de Lênin. O quarto período forma o contemporâneo, apresentando várias tendências, mas as principais são a soviética e a chinesa, que reclamam para si a continuação genuína das idéias de Marx (Triviños, 1987, p. 49).


O marxismo compreende três aspectos principais: o materialismo dialético, o materialismo histórico e a economia política. De acordo com o quadro geral de referência, o marxismo se inclui como uma tendência dentro do materialismo filosófico, apresentando várias linhas de pensamento.


As raízes da concepção do mundo de Marx estão unidas às idéias idealistas de Hegel (1770-1831). Hegel “aceitava que todos os fenômenos da natureza e da sociedade tinham sua base na Idéia Absoluta” (Triviños, 1987, p. 50).


Marx tomou várias idéias de Hegel, fundamentais para o marxismo, como exemplo: o conceito de alienação e de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão da realidade. Desenvolveu-as dentro de sua concepção materialista do mundo, ao invés de vinculá-las ao espírito absoluto hegeliano (Triviños, 1987, p. 50).


Karl Marx (1818-1883) substitui o idealismo hegeliano por um realismo materialista: a matéria é o princípio fundamental e a consciência, produto da matéria. São as relações de produção que formam a estrutura econômica da sociedade, base sobre a qual se ergue a superestrutura jurídica, política, religiosa, etc.


As fontes diretas do marxismo foram: o idealismo clássico alemão (Hegel, Kant, Schelling, Fichte), o socialismo utópico (Saint-Simon e Fourier, na França, e Owen, na Inglaterra) e a economia política inglesa (D.Ricardo e Smith) (Triviños, 1987, p.50).










3.2 Materialismo Dialético


É a base filosófica do marxismo que tenta buscar explicações coerentes, lógicas e racionais para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento. Baseia-se numa interpretação dialética do mundo; constitui uma concepção científica da realidade, enriquecida com a prática social da humanidade. Além de ter como base de seus princípios a matéria, a dialética e a prática social, o materialismo dialético também aspira ser a teoria orientada da revolução do proletariado.


Este pensar filosófico tem como propósito fundamental o estudo das leis mais gerais que regem a natureza, a sociedade e o pensamento. Isto leva ao estudo da teoria do conhecimento e a elaboração da lógica. Através do enfoque dialético da realidade, o materialismo dialético mostra como se transforma a matéria e como se realiza a passagem das formas inferiores às superiores.


Segundo Hegel (1770-1831), a dialética torna-se não só um método lógico, norma de análise da natureza, como também o comportamento geral da própria natureza, em sua contínua transformação. Para Hegel, a razão domina o mundo e tem por função a unificação, a conciliação, a manutenção da ordem no todo. É a “razão dialética” que procede por unidade e oposição dos contrários. A “contradição” é a mola mestra do pensamento e, ao mesmo tempo, o motor da história, já que esta não é senão o pensamento que se realiza (Cordeiro, 1999, p. 50).


Os idealistas alemães entenderam a realidade não só como objeto de conhecimento, mas também como objeto da atividade. Kant, o fundador do idealismo clássico alemão, destacou a força dos aspectos contraditórios no processo de desenvolvimento. Mas é com Hegel que, “por primeira vez (...) se concebe todo o mundo da natureza, da história e do espírito como um processo, isto é, em constante movimento, mudança, transformação e desenvolvimento, intentando, além disso, pôr em relevo a conexão interna deste movimento de desenvolvimento” (Triviños, 1987, p. 53).


O método dialético é aquele que penetra no mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e das mudanças dialéticas que ocorrem na matéria e na sociedade. O pesquisador que aplica o método dialético compreende a realidade, valoriza a contradição dinâmica do fato observado e a atividade criadora do sujeito que está sempre a caminho, em formação, inacabado, aberto para novas alternativas (Cordeiro, 1999, p. 50).


As definições da dialética materialista dos clássicos do marxismo ressaltam os aspectos que se referem às formas do movimento universais e as conexões que se observam entre elas. Engels a define como a ciência “das leis do movimento e desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento”. E Lênin a define como “a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta da unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em eterno desenvolvimento” (Triviños, 1987, p. 53).


Uma das idéias mais originais do materialismo dialético foi ressaltar a importância da prática social como critério de verdade. Assim, as verdades científicas, em geral, significam graus do conhecimento, limitados pela história. Portanto, o pesquisador que seguir essa linha teórica deve ter presente em seu estudo uma concepção dialética da realidade natural e social e do pensamento, a materialidade dos fenômenos e que estes são possíveis de conhecer (Trivinõs, 1987, p. 73).










3.3 Materialismo Histórico


É a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade.


O materialismo histórico significou uma mudança fundamental na interpretação dos fenômenos sociais, pois até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções idealistas da sociedade humana. Marx e Engels colocaram pela primeira vez, em sua obra. A ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico (Triviños, 1987, p. 51).


O materialismo histórico ressalta a força das idéias, capaz de introduzir mudanças nas bases econômicas que as originou. Por isso, destaca a ação dos partidos políticos, dos agrupamentos humanos, etc. Essa ação pode produzir transformações importantes nos fundamentos materiais dos grupos sociais.


É a ciência filosófica que esclarece vários conceitos como:


Ser social: relações materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em forma objetiva, independente da consciência.


Consciência social: são as idéias políticas, jurídicas, filosóficas, estéticas, religiosas, etc.


Meios de produção: tudo o que os homens empregam para originar bens materiais (máquinas, ferramentas, energia, matérias químicas, etc.).


Forças produtivas: são os meios de produção, os homens, sua experiência de produção, seus hábitos de trabalho.


Relações de produção: podem ser de cooperação, de submissão ou de um tipo de relações que signifique transição entre as formas assinaladas.


Modos de produção: da comunidade primitiva, escravista, feudalista, capitalista e comunista.


De maneira muito geral, pode-se dizer que a concepção materialista apresenta três características importantes. A primeira delas é a materialidade do mundo, onde todos os fenômenos, objetos e processos que se realizam na realidade são materiais. Lênin, numa de suas obras, define a Matéria como “uma categoria filosófica para designar a realidade objetiva que é dada ao homem nas suas sensações, que é copiada, fotografada, refletida pelas nossas sensações, existindo independentemente delas” (Triviños, 1987, p. 56).


A segunda peculiaridade ressalta à consciência, é uma propriedade da matéria. A grande propriedade da consciência é a de refletir a realidade objetiva. Assim surgem as sensações, as percepções, representações, conceitos, juízos. É fundamental estabelecer que o cérebro por si só não pensa. A consciência está unida à realidade material. Esta influi sobre os órgãos dos sentidos que transmitem as mensagens aceitas pelos canais nervosos ao córtex dos grandes hemisférios cerebelosos (Triviños, 1987, p.62).


A última é a prática social, onde a prática é toda atividade material, orientada para transformar a natureza e a vida social. A prática social se desenvolve e enriquece através da atividade prática e teórica dos diferentes indivíduos e coletividades














3.4 Categorias e leis da dialética


Para o Marxismo, as categorias se formaram no desenvolvimento histórico do conhecimento e na prática social. Significa que o sistema de categorias surgiu como resultado da unidade do histórico e do lógico.


São entendidas como “formas de conscientização dos conceitos dos modos universais da relação do homem com o mundo, que refletem as propriedades e leis mais gerais e essências da natureza, da sociedade e do pensamento” (Triviños, 1987, p. 54).


Entende-se por Lei “uma ligação necessária geral, iterativa ou estável” (Triviños, 1987, p. 54).


Tanto as categorias como as leis “refletem as leis universais do ser, as ligações e os aspectos universais da realidade objetiva”. Mas as categorias são mais ricas em conteúdo do que as leis, já que aquelas refletem também “as propriedades e os aspectos universais da realidade objetiva’. A categoria essencial do materialismo dialético é a contradição que se apresenta na realidade objetiva. E a lei fundamental também é a Unidade e luta dos contrários, a Lei da Contradição. Entre a categoria e a lei da contradição existem diferenças notáveis. “A Lei da ‘unidade’ e da ‘luta’ dos contrários reflete e fixa o fato que há luta entre os contrários que se excluem e, ao mesmo tempo, estão unidos, e que esta luta, em última análise, leva à solução da dita contradição e à passagem da coisa de um estado qualitativo a um outro”. Entretanto, a categoria da contradição, estabelece, por exemplo, que a contradição é uma interação entre aspectos opostos, distingue os tipos de contradições, determina o papel e a importância que ela tem na formação material e ressalta que a categoria da contradição é a origem do movimento e do desenvolvimento (Triviños, 1987, p. 54).










CONSIDERAÇÕES FINAIS:










Apartir do conteúdo exposto, referente as três correntes teóricas, o positivismo, a fenomenologia e o marxismo, podemos pôr em evidência as derivações metodológicas e os resultados atingidos, seguindo uma ou outra tendência teórica. A vinculação do pesquisador a uma concepção de vida, do homem e do mundo é fundamental. Basicamente os métodos ou as teorias usadas em países desenvolvidos, não podem ser deslocadas para os países subdesenvolvidos, sem haver as devidas adaptações e transformações exigidas, pois a realidade de vida de um país subdesenvolvido é muito diferente, onde a pobreza se faz presente com muita expressão e certamente existem vários problemas sociais. Frente a isso precisamos adaptar as correntes conforme as necessidades e dificuldades do meio em que vivemos. É importantíssimo ter um amplo conhecimento sobre a realidade em que vamos intervir, conhecer e saber os problemas que afetam as pessoas ou as comunidades em geral. Ter este conhecimento é base fundamental para se atingir um bom resultado seja na elaboração de uma pesquisa ou na realização de uma intervenção.


A teoria marxista nos oferece um caminho com bons propósitos. Segue uma linha comprometida com um projeto de transformação da realidade social, sua intervenção oferece toda uma preocupação com a análise dialética da realidade. Além disso, procura buscar explicações coerentes, lógicas e racionais, sem deixar de ressaltar a prática social como critério de verdade. Contudo vale lembrar que as três tendências metodológicas são fundamentais, e o mais importante é sabermos escolher o método ou a metodologia mais adequada quando formos fazer algum trabalho (pesquisa ou intervenção). Conforme o objetivo que queremos alcançar, escolheremos o método que melhor resultado nos trará.


A opção de métodos alternativos é fundamental, uma vez que a pesquisa, ou até a intervenção não é uma atividade pronta e acabada, tendo sempre a necessidade de se construir caminhos e refletir sobre os mesmos. Nenhuma análise é definitiva, havendo sempre a possibilidade de acontecerem possíveis transformações.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:










TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa


qualitativa em educação. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1992.


CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil,


1938.


CARVALHO, Maria Cecília M. de. Construindo o saber – Metodologia científica:


fundamentos e técnicas. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 1997.


CORDEIRO, Darcy. Ciência, pesquisa e trabalho científico: uma abordagem


metodológica. 2 ed. Goiânia: Ed.UCG, 1999.


BRUYNE, Paul de, et all, Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática


metodológica. 5 ed. Rio de Janeiro - RJ: Livraria Francisco Alves Editora S.A.,


1991.
Fonte: http://plaggiado.blogspot.com/2010/08/positivismo-fenomenologia-e-marxismo.html

Serviço Social/Crise e renovação

A crise do Serviço Social Tradicional No Brasil, durante o governo de Jãnio Quadros (1960-1961), no ano de 1961, e logo depois de João Goulart (1961 - 1964) - popularmente conhecido como Jango, entre 1961 e 1964, a sociedade se dividiu, entre o apoio ao projeto de aprofundar o desenvolvimento dependente e associado do capitalismo, e a ruptura com esse padrão de desenvolvimento, avançando no processo de industrialização a partir do nacionalismo econômico de Getúlio Vargas, com as "reformas de base" (reformas estruturais: nos setores universitário, fiscal, político e agrário). Estas reformas contavam com o apoio das massas populares (trabalhadores, camponeses, estudantes e intelectuais) que estavam muito ativas naquela época. Com a ditadura de 1964, consolida-se o caminho de desenvolvimento capitalista associado aos grandes monopólios fundamentalmente de origem norte-americano.




Segundo Marilda Iamamoto a "questão social" no Brasil durante a consolidação do capitalismo monopolista, pode ser definida como "queda do padrão de vida dos trabalhadores" causada pelo aumento da taxa de exploração da força de trabalho obtida através da política de "arrocho salarial". Com esta política procurava-se atrair o investimento externo, para alavancar o desenvolvimento industrial, e inserir a economia brasileira na nova divisão internacional do trabalho pautada pela internacionalização da produção. Na ditadura, a "questão social", foi enfrentada por parte do Estado e do empresariado através da repressão e da assistência. A assistência via-se expandir criando o mercado nacional de trabalho para o Serviço Social. Ao mesmo tempo os serviços sociais começarão a serem explorados como fonte de acumulação de capital, e não apenas como instrumentos de redistribuição de renda.



A bifurcação dos caminhos que se colocou na sociedade brasileira nos anos sessenta, aconteceu também na América-latina, alimentada pela influencia da Revolução Cubana, que demonstrava factualmente que era possível um caminho de ruptura com o imperialismo dos EUA e o desenvolvimento socialista da sociedade.



No Serviço Social esta disjuntiva político-social se refratou no corpo profissional na forma de um movimento de renovação ou reconceituação profissional que apresentou duas faces: modernização e ruptura. O movimento de reconceituação começou no Cone Sul da América-latina (no ano de 1965 se realizou o I Seminário Regional Latino-americano de Serviço Social em Porto Alegre) e se espalhou pelo resto do continente ao longo de aproximadamente uma década.



Na modernização temos a vontade de transformação do Serviço Social de tecnologia em ciência, adotadando para isto o método científico. Na ruptura, temos a descoberta da ideologia como uma região, ou esfera da sociedade. Poder-se-ia dizer que aqui também existia a vontade de fazer do Serviço Social uma ciência, sendo para isto necessário, que o Serviço Social rompa com as ideologias ou que se defina a favor de uma das ideologias. Através da ideologia era possível pensar a relação entre o conhecimento e os interesses sociais quebrando assim a circularidade e auto-suficiência do processo de conhecimento do positivismo. Com esta formulação o Serviço Social abandonava o lugar de neutralidade que tradicionalmente ocupava, se afastando também da proposta modernizadora (e positivista) já que esta era considerada como uma proposta "ideológica" que visava a mascarar as relações sociais entre as classes.



A renovação do Serviço Social poderia ser explicada na trilha de Marilda Iamamoto (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001), como uma tentativa de resposta à crise de legitimidade do Serviço Social. Trata-se de uma dupla crise de legitimidade: funcional e social. Para a crise de legitimidade funcional, ou seja com os empregadores (basicamente o Estado), a "saída" consiste na tecnificação da prática profissional, dando lugar a uma perspectiva modernizadora do Serviço Social. Entretanto, quando é uma crise de legitimidade social (em relação às demandas dos usuários, ou dos segmentos sociais com os quais o Serviço Social trabalha), a "saída" consiste em romper com as tradicionais instituições empregadoras dos profissionais, isto é, principalmente, com o Estado, dando lugar a uma perspectiva "refundacional" ou de "intenção de ruptura". Destarte, fica claro que a pretensão de refundar o Serviço Social não cobre a totalidade das expressões do processo de renovação da profissão. Existia, também, junto com esta tendência, uma outra que se caracterizou pela modernização e tecnificação das práticas profissionais, numa tentativa de se adaptar às novas demandas tecno-burocráticas dos estados desenvolvimentistas.



Segundo J. P. Netto (2001) os vetores da renovação do Serviço Social na América-latina foram: a crise da ciências sociais de origem norte-americano, a renovação da Igreja Católica e o movimento estudantil. O concílio Vaticano II e a II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Medellín/Colômbia em 1965 (reunida com o tema: A Igreja na atual transformação da América Latina, à luz do Concílio Vaticano II. Ver também o papel de Paulo Freire (1921-1997) e do Movimento da Cultura Popular em Pernambuco; assim como a Teologia da Libertação.



Na Teologia da Libertação temos um diálogo entre marxistas e cristãos. As concepções de Louis Althusser (1918-1990) foram um elemento facilitador desse diálogo. Este autor separava o marxismo em ciência (materialismo histórico) e filosofia (materialismo dialético). Esta separação é justificada pelo autor em vários textos, em particular neste clássico intitulado [A filosofia como arma revolucionária]. Em base a esta separação era possível aderir ao materialismo histórico (a ciência) sem ter que aderir também ao materialismo dialético. Ao mesmo tempo o caráter científico do marxismo possibilitava ser recepcionado como se fosse tão verdadeiro (e infalível) como a fé (Marcelo Ridenti fala dos "santos comunistas"). O maoismo da Revolução Cultural Chinesa era o caminho mais direto entre o cristianismo popular e o marxismo (aqui aparece o problema da verdade como testemunha: as verdades filosóficas são verdades em relação a uma determinada forma de existência. Ex. o sacrifício como testemunha da verdade).



No quadro criado pela revolução cubana e a emblemática figura do "Che" Guevera, o movimento estudantil, alimentado pela tradição anti-imperialista da Universidade Latino-americana a partir do movimento da Reforma de Córdoba, foi o vetor mais importante no processo de renovação profissional. Foi através deste movimento que as demandas mais avançadas das classes subalternas se filtraram e foram traduzidas em demandas de mudanças curriculares e de métodos pedagógicos nas escolas de Serviço Social.



A reconceituação na América latina e no Brasil Na comparação entre a dinâmica da renovação do Serviço Social no Brasil com o resto dos países da América-latina (especialmente do Cone Sul) deve ser levado em consideração o ambiente político diferenciado em que se desenvolveu este processo. No Brasil, numa ditadura, e, nos outros países, numa democracia com grande mobilização social (o caso chileno - a experiência do governo da Unidade Popular- quiçá seja o mais emblemático desta última situação). Por esta razão a renovação no Brasil será primeiro modernizadora e somente depois, com o ingresso da classe operária no cenário político, é que resgatará a herança da reconceptualização (1965 - 1975) iniciando um processo de ruptura ("intenção de ruptura" dirá J. P. Netto).



A reconceituação começou com o 1º Seminário Latino-americano de Serviço Social, realizado no ano de 1965 em Porto Alegre, e finalizou por volta do ano de 1973. Durante este lapso de tempo foram realizados uma série de seminários latino-americanos: em Montevidéu, Uruguai (1966), em General Roca, Argentina (1967), em Concepción, Chile (1969), em Cochabamba, Bolívia (1970) e finalmente, o sexto evento, foi novamente em Porto Alegre no ano de 1972. No mesmo ano em que foi realizado o 1o. Seminário Latino-americano de Serviço Social em Porto Alegre, foi fundada a Associação Latino-americana de Escolas de Serviço Social (logo depois Trabalho Social), ALAETS, e uma década depois, o Centro Latino-americano de Trabalho Social, CELATS, que tiveram grande importância na promoção do Serviço Social crítico.



No Brasil, a partir do início da perda de legitimidade da ditadura, no ano de 1974, é que começarão a ser criadas as condições para o desenvolvimento (ou a retomada) do pensamento crítico no Serviço Social. Será no ano de 1979 que este processo adquire visibilidade durante o "Congresso da Virada" quando dirigentes sindicais são chamados para compor a mesa de honra do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS).



Outro fator a ser levado em consideração é a reforma universitária acaecida no Brasil no ano de 1968 que criará os cursos de pós-graduação e profissionalizará o trabalho docente. Esta reforma está relacionada com o processo de industrialização (diferente dos outros países da América latina, nos que as ditaduras tinham com projeto a desindustrialização). A profissionalização do trabalho docente e os cursos de pós-graduação, unido ao desenvolvimento político da classe operária, são fatores que ajudam a explicar o grande desenvolvimento teórico-político do Serviço Social particularmente a partir dos anos oitenta.



Ao longo do processo ditatorial J. P. Netto distingue a constituição de três perspectivas:



modernizadora;

reatualização do conservadorismo;

intenção de ruptura

A perspectiva modernizadora
Nesta perspectiva o positivismo constitui o pano de fundo. No positivismo procura-se utilizar o "método cientifico" das ciências naturais para também analisar a sociedade. Este monismo metodológico é uma das principais características do positivismo. Para realizar esta operação é necessário, portanto, tratar a vida social da mesma forma em que é tratada a natureza. Dai que exista uma naturalização, ou também, poder-se-ia dizer, a coisificação da sociedade. Acontece que, evidentemente, existe um salto ontológico entre a natureza e a sociedade. Sem a natureza não poderia existir a sociedade, entretanto, isto não que dizer que a natureza possa explicar a sociedade. Na vida social surge a teleologia, e a partir dai todas as formas de consciência social (o conhecimento científico, a religião, a ética), enquanto que na natureza só existe a causalidade natural. Há no positivismo uma autolimitação cognoscitiva, uma recusa consciente, a mergulhar naquilo que não tem existência empírica. A razão só pode conhecer verdadeiramente aquilo que pode ser verificado empiricamente, seguindo o exemplo das ciências naturais. Quando a razão procurar ir além dos "fatos empíricos" ela se perde (ou retorna para) (n)o terreno da metafísica. Portanto, a essência não pode, nem deve, ser conhecida, porque ela está além das possibilidades cognoscitivas do ser humano. Assim como a essência, também acontece com os fins últimos da ação humana (os valores sociais), eles também não poder ser conhecidos racionalmente. Esta cisão entre meios racionais e fins irracionais aparece por exemplo na análise das formas de ação social em Max Weber (1864-1920), e tem grande importância para o Serviço Social. Esta autolimitação epistemológica traz como consequência a atitude conhecida como atitude agnóstica.





Contudo, existe no positivismo, um ponto de vista parcialmente verdadeiro, já que, com efeito, o processo de reificação, que está na base da análise do positivismo, efetivamente acontece socialmente (e não apenas mentalmente). No trabalho assalariado os indivíduos se relacionam entre si e consigo próprios como portadores de mercadorias sempre dispostos a estabelecer relações de troca. Na produção capitalista opera continuadamente este processo de compra-venda de força de trabalho como si fosse uma mercadoria, uma "coisa" com valor de uso e valor de troca. Este processo se expressa na forma de razão calculista (formal, abstrata, técnica), na forma de predomínio da forma mercadoria, ou seja, do valor de troca, das propriedades quantitativas dos produtos sobre as propriedades qualitativas (o valor de uso), dai o caráter formal ou abstrato deste tipo de racionalidade. No positivismo temos a tentativa de analisar a sociedade "como si ela fosse uma coisa", ou seja, de um modo naturalista. Portanto no positivismo temos a consciência teórica do processo de reificação. O positivismo opera no limite da reificação, sem conseguir ir além desse limite, ou seja, sem fazer a crítica ao processo de reificação da vida social. Poder-se-ia dizer que no positivismo, existe a tendência, com base no processo de reificação da sociedade, a privilegiar as dimensões quantitativas sobre as qualitativas, o valor de troca sobre o valor de uso, em todas as esferas da vida social. Marx diz, com relação à sociedade burguesa, que nela a riqueza se apresenta "à primeira vista" como uma enorme acumulação de mercadorias. A mercadoria --a "célula" da sociedade burguesa-- se apresenta tendo um duplo valor: de uso e de troca, além de uma medida: o preço. O valor de troca, as propriedades quantitativas, é o que possibilita a comparação dos produtos no processo de intercâmbio (a esfera inter-humana, social), até chegar ao consumo (a esfera privada) onde se manifesta seu valor de uso (as propriedades qualitativas, concretas). Na sociedade capitalista se produz constantemente a substituição de valor de uso por valor de troca, do trabalho concreto pelo trabalho abstrato, das propriedades qualitativas (sensíveis) pelas propriedades quantitativas (abstratas, susceptíveis de cálculo racional). Assim, as coisas inertes adquirem, face ao trabalho humano, a aparência de ter elas mesmas atributos sociais. O objeto (inerte, morto) torna-se autônomo e domina o sujeito. 



Seminário de Araxá (1967)
O eixo que atravessa o Seminário de Araxá é o transformismo a conservação do Serviço Social tradicional sobre novas bases. Isto se manifesta de diversas formas ao longo do seminário. Uma delas é a clássica diferenciação entre os níveis de intervenção macrossocial e microssocial. No nível Macrossocial temos o perfil profissional do assistente social voltado para a formulação de políticas sociais (moderno), e no nível microssocial temos o papel do assistente na execução terminal das políticas (tradicional) numa relação direta com os usuário dos serviços. O nível macrossocial está relacionado com a conformação da tecno-burocracia e racionalização da gestão do Estado em conformidade com os interesses dos monopólios. Processo este aprofundado pela ditadura, que no caso do Brasil, foi uma ditadura desenvolvimentista, mas que ao mesmo tempo que modernizou a sociedade também conservou os elementos tradicionais (ex. a questão agrária) refuncionalizados e subordinados às demandas modernizadoras, racionalizadoras do desenvolvimento monopolista. Além desta divisão entre níveis macro e microssocial uma outra ideia merece ser destacada já que mostra o papel do positivismo, na forma de estrutural-funcionalismo, neste seminário, e na perspectiva modernizadora. Trata-se do princípio da globalidade, que sustenta que o indivíduo deve ser analisado na sociedade, ou no sistema social. Para os participantes deste seminário, este era um princípio específico do Serviço Social. Esta formulação remete o princípio da globalidade para a analise baseada na clivagem ator-sistema própria do estrutural-funcionalismo. O ator é um indivíduo que internaliza normas e valores do seu meio social, desenvolvendo assim um comportamento adaptativo.



Seminário de Teresópolis (1970)
Este outro seminário, foi organizado também pelo CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais), com o propósito de analisar a questão da metodologia profissional do Serviço Social. Neste sentido as ideias apresentadas por Lucena Dantas são as mais relevantes, por causa da coerência e competência teórica deste profissional. Para Dantas o método profissional é o método científico aplicado: que opera através do diagnóstico e a intervenção planejada. No positivismo considera-se que só existe um método para conhecer a realidade. Nesta formulação aparece o papel de razão instrumental (técnica, formal, abstrata, calculista). A intervenção profissional está comandada por uma racionalidade calculista (cálculo de custos e benefícios), de um indivíduo que opera em um mundo coisificado de mercadorias. Esta racionalidade possibilita também um maior controle por parte das grandes burocracias das práticas profissionais.





O positivismo opera com uma racionalidade auto-limitada, que no caso da ação social, significa separar os meios dos fins. A esfera dos meios é, ou pode ser, objeto de análise racional (a esfera dos fins, dos valores, não pode ser objeto de análise racional). Esta última é a esfera dos valores, da "eterna luta entre os deuses e os demônios" como diria Weber. A primeira é a esfera técnica ou burocrática, e a segunda é a esfera política, onde impera a paixão política (o político age seguindo sua paixão política). Em Weber estas duas esferas dão lugar a duas éticas: a ética da responsabilidade e a ética da convição. Esta separação entre a esfera política e a esfera técnica, é funcional, no caso da ditadura, a uma prática profissional que somente se ocupa dos aspectos técnico-burocráticos do trabalho profissional, evitando o envolvimento nas discussões políticas. A prática profissional comandada por esta perspectiva, é uma prática de verificação de hipótese. O assistente social opera através do desenvolvimento de projetos, nos quais está embutida uma hipótese (explícita ou implicitamente) -- a hipótese do projeto -- que estabelece uma relação entre duas ou mais variáveis. Na prática do assistente social, este (o assistente social) modifica uma ou mais variáveis (chamadas variáveis independentes), através das atividades do projeto, para alcançar um determinado resultado (variável dependente).



A perspectiva de reatualização do conservadorismo

Perspectiva de origem católica conservadora que reivindica a relação cara a cara no espaço microssocial (assim a reivindicação da entrevista e do princípio da autonomia nestes autores). Nesta perspectiva coloca-se a temática da intersubjetividade, do diálogo, ou seja, da linguagem, como instrumento de trabalho. A transformação social é entendida como crescimento da pessoa (ser a ser-mais), e o objeto de intervenção profissional é caracterizado como situação existencial problema (SEP). Busca, através de uma leitura simplificada, e portanto, empobrecida da fenomenologia, criticar o positivismo no Serviço Social, negando a separação (ou o dualismo) sujeito-objeto, se propondo resgatar o Serviço Social "originário", antes da "queda" no positivismo. Este Serviço Social, anterior ao positivismo, é o Serviço Social Tradicional.



Portanto, os principais traços desta perspectiva são:



a compreensão do Serviço Social como a ajuda psico-social;

o diálogo como instrumento de trabalho;

a transformação social entendida como ser-mais; e

o objeto de intervenção profissional como situação existencial problema: (SEP), o problema vivenciado pelo usuário.

Existia na passagem da século XIX para o XX, uma crise da ciência. Era tanto uma crise social como uma crise endógena. A crise social diz respeito a entrada do capitalismo no estágio monopolista e, junto com ele, o surgimento das tendências as guerras interimperialistas, como efetivamente se verificou no início do século XX com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Configurou-se um quadro de pessimismo intelectual, que deu lugar até ao surgimento de tendências irracionalistas na filosofia. Neste quadro, a fenomenologia surge como uma proposta de busca de uma nova fundamentação racional para o conhecimento científico que supere o dualismo sujeito social - objeto natural próprio da ciência positivista, responsável das consequências perversas do desenvolvimento científico-técnico da sociedade ocidental.



Ao mesmo tempo, existia também um problema endógeno, no campo da ciência, O problema que se colocava era que aquilo que era objeto da pesquisa, em particular no mundo microscópico e/ou das partículas atômicas, não era o objeto em-si (o objeto natural), mas um objeto modificado pelo próprio pesquisador para que ele se torne visível ou perceptível. Ou seja, os próprios instrumentos de observação interferiam no objeto observado, de tal forma que o objeto observado não era o objeto natural, mas o objeto social (um objeto humanizado), transformado pelo próprio pesquisador. Isto questionava o pressuposto da separação sujeito (social) - objeto (natural) próprio do positivismo dominante no século XIX, e, em geral, de toda a tradição filosófica ocidental.



A saída para esta crise, está na substituição da relação sujeito - objeto para a relação intersubjetiva, a relação sujeito - sujeito, que tem na linguagem o seu modelo fundamental. Tem origem assim, o processo denominado por Habermas de "giro linguístico da filosofia", um movimento, que atravessará todo o século XX, e ainda hoje, na direção das filosofias de linguagem. Trata-se de um novo paradigma filosófico que pretende substituir o paradigma das filosofias da consciência, operando com uma racionalidade hermenêutica, através da interpretação e a compreensão do sentido, em oposição à racionalidade dialética,



A perspectiva de intenção de ruptura Edit

Esta perspectiva surge a partir da crise final da ditadura, quando o movimento operário, constituído em sujeito político, emerge no cenário político-social, na passagem dos anos 70 para os 80. Este processo se refrata no interior do Serviço Social no Congresso da Virada (III Congresso de Assistentes Sociais do Brasil) no ano de 1979. Obviamente, este processo, que emergiu no Serviço Social, já tinha um acúmulo realizado nos anos sessenta e também, ainda que em circunstâncias totalmente desfavoráveis, nos anos setenta, como ficou patente com a experiência do Método B.H. Existe aqui uma relação explícita, entre os interesses das classes sociais subalternas, e sua expressão teórica na teoria social crítica, particularmente, na tradição marxista.



No marxismo entendido como filosofia de práxis, há a concepção de que o conhecimento está ligado aos interesses das classes sociais. Neste sentido o marxismo seria a forma de consciência teórica dos interesses históricos da classe operária. Ou seja, existe aqui uma relação consciente entre a teoria social e a prática de uma determinada classe social. Postula-se assim, a relação entre o trabalho de conhecer a realidade e a da sua transformação, na trilha das Teses sobre Feuerbach, em particular a tão citada tese No. 11: "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo." Neste sentido, o marxismo não é uma teoria social no sentido tradicional da palavra, ela é uma teoria sui-generis, já que não postula que o filósofo deva se afastar dos interesses mundanos, num processo de catarse ou purificação, como na filosofia tradicional desde a época dos gregos (para estes pensadores a teoria era contemplação, ausência de movimento).



Dai a relação do marxismo com o processo de reorganização da classe operária nos último anos da década dos anos setenta, e com o surgimento dos sindicatos autodenominados autênticos que depois conformariam o PT e a CUT. Nesta perspectiva se opera com uma relação consciente com o movimento operário (esta é sua particularidade). O papel da teoria é tornar consciente, unitário e coerente os interesses da classe operária. Este papel da teoria se desenvolve através da prática política, na intenção de construir aos trabalhadores como sujeitos políticos. Existe, portanto, uma intencionalidade na teoria crítica, que é voltar para a prática dos trabalhadores, esclarecendo-os dos seus "verdadeiros" interesses, para que assim possam agir na direção da sua emancipação. Existe uma ruptura com o mito da neutralidade, e uma tomada de partido em favor dos interesses dos trabalhadores (ao mesmo tempo que os próprios assistentes sociais se descobrem como trabalhadores). Nas outras perspectivas a relação do Serviço Social com as classes sociais é negada ou ocultada.



No caso do marxismo, como filosofia da práxis, que assume explicitamente os interesses da classe operária, precisa explicar como é possível que esse ponto de vista particular, possa ser superior aos outros pontos de vista, no sentido de ser mais universal, a pesar de ser também um ponto de vista particular, corporativo. A resposta está no lugar que a classe operária ocupa na história das sociedades de classe. Ela seria a última das classes sociais. A sua emancipação da exploração da qual é objeto, não daria lugar a um outro regime de exploração. Ou seja, ela (a classe operária) não se transformaria numa outra classe exploradora. A sua emancipação significa o fim do regime de exploração do "homem pelo homem", porque daria lugar a um regime sem classes sociais antagônicas. A própria classe operária vai deixar de existir, em tanto classe social.



Por esta razão, a classe operária é potencialmente portadora de um interesse universal, porque está interessada na sua emancipação e na emancipação da sociedade. Não tem outra classe para explorar. Ela é portadora de um interesse universal ou emancipatório. Existe nela a perspectiva da totalidade (universalidade). Por isto, a pesar, de defender os seus interesses particulares de classe, ao mesmo tempo, ela é potencialmente portadora de um interesse universal. Na ditadura isto ficou claro: ao mesmo tempo que a classe operária lutava pelo seu emprego e salário, também lutava pela democracia e a liberdade. É claro que o interesse universal da classe operária pode não se realizar, dai que seja necessário esclarecer que ela (a classe operária) é portadora "em potencial" de um interesse emancipatório. Por causa desta articulação entre o interesse particular e o interesse universal é que, do ponto de vista do conhecimento, opera-se com a perspectiva da totalidade concreta. Totalidade não quer dizer todo, quer dizer analisar a sociedade de um modo unitário e não fragmentário, a relação entre o singular e o universal que se exprime na particularidade dos fatos sociais. A articulação entre as diferentes instâncias ou momentos da totalidade, é realizada pelas mediações. Assim, a totalidade concreta é uma totalidade muito rica, síntese das múltiplas determinações. A totalidade em tanto totalidade concreta e, ao mesmo tempo, aberta, ou seja, histórica, e portanto, em movimento (por conseguinte, o movimento não é um "defeito" da realidade, uma evidência da falta de perfeição, como na filosofia clássica, antes, o movimento, a processualidade, é a essência da realidade). Se fosse uma totalidade fechada, a história já teria se esgotado, mas por se tratar de uma totalidade aberta, a história não acabou, nem vai a acabar enquanto existe vida humana (certamente uma catástrofe nuclear, ecológica ou genética poderia pôr fim à história, e esta é também, hoje, uma possibilidade concreta). O movimento da história, a processualidade, é um movimento dialético, que se desenvolve através de contradições. Finalmente, essa história é feita pelos próprios homens, nas condições históricas herdadas. Este é o traço do humanismo do marxismo, a história é feita pelos próprios homens. Portanto, em resumo, os traços do marxismo são universalidade, totalidade, historicidade e humanismo, "recheados" como diz Leandro Konder (1981) das mediações e contradições, ancorados aos interesses imediatos e históricos da classe operária.



Entretanto, esta tomada de partido pelos interesses da classe trabalhadora, pode trazer uma consequência indesejada, a reatualização de um traço que faz parte da tradição conservadora, de origem católica, no Serviço Social, como é o messianismo católico na forma de militantismo político. O assistente social aparece como aquele que pode tirar os trabalhadores da alienação na que inocentemente mergulham, como antes procuravam tirar as pessoas da vida "pecaminosa". Existe, aqui, uma sobre-estimação do poder do profissional que se complementa com uma subestimação das capacidades dos setores populares (como si fossem setores "carentes").



A emergência da classe trabalhadora como sujeito político, teve influência sobre a instituição universitária, que fora reformada no ano de 1968, seguindo o modelo da universidade norte-americana, visando a formação dos quadros técnico-científicos necessário para o processo de expansão produtiva promovida pela ditadura. A partir da reforma universitária, são criados os cursos de pós-graduação em Serviço Social, dando lugar ao surgimento de um profissional dedicado exclusivamente ao trabalho acadêmico. Esta profissionalização do trabalho acadêmico, paradoxalmente, propiciou a formação de quadros profissionais dedicados ao desenvolvimento da reflexão crítica sobre o Serviço Social.



O pensamento crítico se desenvolve na universidade, uma vez que elas foram o ponto mais fraco do conjunto das instituições durante o regime militar. Pela natureza do trabalho acadêmico existe uma certa liberdade nos espaços universitários. A intenção de ruptura começou nas universidades fundamentalmente nos cursos de pós-graduação. E ela está atrelada fortemente à existência de um ambiente cultural rico e autônomo nas universidade. É a perspectiva que depende de um modo mas claro da existência de um ambiente de liberdade, autonomia e compromisso social da universidade, condições que têm mais chance de se realizarem, mas universidades públicas.



Esta perspectiva percorreu um processo: 1) emersão: Método B. H. (1972-1975); 2) consolidação: Congresso da virada (1979). Currículo de 1982 implementado a partir de 1984; 3) espraiamento: Código de ética de 1986.



Método B.H (Belo Horizonte) Edit

Esta experiência foi desenvolvida na Universidade Católica de Minas Gerais entre os anos 1972 e 1975. Para Netto, o método B.H. foi uma alternativa global ao tradicionalismo. Neste sentido, postulava como objeto de intervenção profissional a ação social da classe oprimida, como objetivo a transformção da sociedade e do homem. Os meios para alcançar estes objetivos seriam a organização, capacitação e mobilização.



As críticas que podem ser feitas são: conceito simplificado da classe social, objetivos muito ambiciosos (messianismo), e funções que se confundem com as funções político-partidárias.



Procurou-se utilizar o método dialético entendido como um processo de abstração e concreção. A aplicação prática deste método, seguia em termos gerais o processo em três grandes momentos: sensível, abstrato e racional ou científico. Assim o processo seguia esta sequência: o primeiro momento, o momento sensível, se materializava no contato sensível com a população; logo o momento abstrato, que se manifestava na formação de grupos de discussão sobre os diversos problemas identificados (com efeito, os elementos isolados de uma determinada totalidade social, são abstrações dessa realidade); e finalmente racional ou científico, momento de síntese, quando os trabalhos dos diversos grupos se sintetizavam em reuniões plenárias. No final deste processo esperava-se conseguir a produção de novos conhecimentos, o que, evidentemente, não aconteceu. No final do processo só tinha se conseguido sistematizar o senso comum, portanto, não tinha sido possível sair do empirismo, daquilo que já era conhecido pela população e os pesquisadores.



As principais críticas são: empirismo, formalismo e marxismo sem Marx. Empirismo: De fato não se conseguiu sair do senso comum, ou seja, do momento sensível, já que para sair do senso comum, é necessário, realizar uma crítica teórica a esse senso comum (passar ao plano dos discursos diria Habermas). O mergulho no senso comum não produz novos conhecimentos. Formalismo:: Aqui confundiu-se o movimento da realidade com o movimento do pensamento. O processo de abstração-concreção é o caminho que percorre o pensamento para se apropriar intelectualmente da realidade, mas esse não é o caminho que a própria realidade percorre para alcançar a sua forma atual. Uma coisa é o caminho do pensamento (o método) e outra é o próprio movimento da realidade. No BH procurou-se que a realidade se encaixasse na lógica do pensamento, dai o formalismo do método.



Em suma: marxismo sem Marx. Isto tanto por causa do ambiente político hostil ao pensamento crítico nesse momento da ditadura, que tornava difícil o acesso a bibliografia crítica, como também ao déficit cultural dos próprios autores da proposta.



Contudo, o legado do método BH, consiste na busca para ampliar o espaço profissional buscando ganhar autonomia profissional para poder desenvolver uma prática profissional crítica.

Fonte: http://students.wikia.com/wiki/Servi%C3%A7o_Social/Crise_e_renova%C3%A7%C3%A3o